quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sem título

As vezes a única coisa que a gente tem vontade é de deitar, as vezes o corpo físico só se sente confortável quando está deitado, inerte, não digo dormindo, digo deitado inerte. De olhos abertos, parado no tempo, perdido no tempo e no espaço mas ali, bem localizado, ali, em cima da cama, inerte, confortavelmente inerte.

As vezes eu penso que é estranho pensar como é prazeroso ficar ali, parado, apenas curtindo a simplicidade do não existir mesmo que por alguns minutos. Eu pessoalmente tenho medo dessa perspectiva, medo de que esses minutos virem dias e esses dias se tornem uma vida, medo também da possibilidade de que esses dias virem uma vida se torne uma proposta tentadora.

Nessas horas a gente começa a maquinar asneiras, de repente passa um pensamento pela cabeça “Ah eu poderia ficar aqui a minha vida inteira, é tão bom não existir” e logo em seguida “Por favor alguém me tire daqui!”. É contrasteante e é real, pois geralmente os motivos pelos quais o faz pensar em permanecer são os mesmos que o faz pedir ajuda, mas nem sempre funciona. Estando lá, confortavelmente inerte você acaba percebendo que para se manter inexistente é necessário quebrar os vínculos e ai começa uma agonia pois se percebe que não existem mais vínculos, pois essa tentativa de quebrar acaba se manifestando bem descaradamente como um pedido aflito de ajuda para quem quiser ouvir. Mas ninguém ouve por que estamos confortavelmente inertes e os vínculos, aqueles que realmente poderiam quebrar já não existem mais, não existe mais apelo, não existe mais devoção, apenas o deitar e não é atoa que o corpo físico só se sentir confortável quando está deitado, inerte.

As pessoas vivem da tristeza, as pessoas vivem da alegria, da morte ou da vida, agora tentem se imaginar viver do nada, é confortavelmente inerte.