sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Trecho de "A valsa" - primeira parte.




Havia cortes e ferimentos o suficiente para fazê-lo desistir, seus dedos, dilacerados de suas tentativas vãs de progresso, restavam em meras lembranças de um dia ágeis instrumentos de sua astúcia. O frio gélido que dobrava a nordeste, o fazia contorcer-se como se até a sua parte mais sombria se encolhesse sobre seus próprios temores, aquilo não era mais uma opção entre vida ou morte, ele apenas queria seguir.
O corpo, marcado pelas dores, pendia em movimentos descompassados, conduzidos apenas por uma suave valsa que reverberava em seu peito. Aquela valsa, aquela suave melodia, que um dia lhe contaste os sonhos, agora tornara sua jornada a mais severa penitência, mas aquele som, que se confundia aos já desacreditados batimentos de seu coração, lhe ardiam os olhos num fogo, que talvez, nenhum mortal haverá de contemplar em mil anos.
A neve, colorida de um branco fúnebre, caia sobre seus ombros enquanto, suas passadas cambaleantes se alternavam, sabotando-se freqüentemente em tropeçadas desastrosas, seus pensamentos já se faziam claros como a neve branca, mas a ele não parecia claro se aquela visão era uma manifestação da bondade divina, ou apenas a loucura decorrente de seu estado. Nesse momento, já não lhe restavam forças, o corpo, castigado pelas intempéries, recusou-se a prosseguir, se deixando conduzir pela impiedosa gravidade, ele arrebatou o chão recuando amargamente suas pernas em direção ao peito numa posição fetal, que vagarosamente se tornava mais e mais apagada, enquanto a neve lhe cobria as extremidades com a gentileza de uma doce amante.
A dor, a desilusão e todos aqueles sentimentos, se esvaiam de sua mente a cada novo floco que se acomodava suavemente sobre sua carcaça moribunda, ele pensava que não parecia ruim desistir, até que era fácil, logo aquele frio cortante que lhe rasgava a pele se tornaria uma suave brisa de verão, enquanto a tempestade de sentimentos e pensamentos que o assombravam, se apagariam em uma agradável sensação de bem estar, naquele ponto ele percebeu que aquilo era o prenuncio de sua morte, um envergonhado sorriso surgiu de seus lábios azulados pelo frio, e por alguns segundos ele se sentiu plenamente satisfeito em deixar este mundo. Lembrou-se dos familiares e amigos, das árvores, dos bichos e todos os amores que um dia contemplou, lembrou-se das dores e angustias, lembrou-se daqueles que perdeu em sua jornada, dos amores que segaram sua visão e dos caminhos que não percorreu. Pensou que toda aquela vida, cheia de brilhos e escuridão fora mais que o bastante para satisfazer-lhe o ser, concluiu que não queria mais tais memórias e em uma voz baixa, praticamente desprovida de forças, agradeceu e as ofertou ao destino, entregando-se ao nada.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Malditas mentiras que os homens contam

Bom, eu menti: na verdade não menti, apenas mudei de idéia. Mudei de idéia pelo simples motivo de que acho que preto combina mais com meus belos olhos, além disso o que seria para mim empecilho para ser, digamos, EU?
É verdade que para alguns escrever é um ato de bravura, mas acho que pra mim é simplesmente um ato de curtir com a cara de alguém que não entende muito bem das coisa, nesse caso eu e mais alguns mortais que ousam duvidar da verdade. Por falar em verdade, se mentir era de fato uma verdade, todos que já leram esse blog, se é que alguém além de mim já leu isso, devem estar imaginando por que diabos eu voltaria a escrever num blog abandonado, se já existe outro com temática parecida. Bom a resposta não é difícil. Os dois são uma grande mentira, e como bom amigo imaginário, ou seja, uma criatura irreal disforme e nada digna de confiança escreverei nos dois mundos, um que não é muito lá prático porém mais alegre, e outro um pouco mais, na verdade bem mais parecido comigo, vazio e obscuro (eu sei são minhas melhores qualidades). No mais.. até mais..