quinta-feira, 16 de julho de 2009

Uma trasferência

Certa vez uma colega me perguntou sobre a importância da transferência no processo de análise. Ela me questionava no sentido de que, segundo seu entendimento, a transferência deveria ser um fator dificultador do processo de análise, eu no momento, atordoado por razões que não me vêm a memória no memento disse, sem muitas explicações que o fenômeno da transferência é sim uma das condições sem a qual não pode existir a clinica em psicanálise.
Tenho isso como opinião própria, entretanto julgo valido tentar compartilhar com que seja interessado no assunto.
O fenômeno da transferência no processo analítico é, e digo com propriedade, a ferramenta pela qual se constrói a clinica. Para o entendimento deve-se pensar que, existe transferência em tudo, desde a interação entre analista e analisante até uma simples olhada desgostosa para uma poltrona velha largada no fundo da sala de estar. Fenômeno que foi chamado primeiramente por Freud, sendo amor transferencial pelo analista, se inscreve em cada relação onde necessariamente estará presento o sujeito.
A relação que liga o sujeito a um outro, engendra um percurso em que, há ai, uma relação discursiva entre um falante e um ouvinte, (lembrando que linguagem perpassa a simples expressão verbal da palavra) pois o laço que se forma em cada discurso compreende a noção de um movimento em sentido a um outro que é falante de si, e falado por seu semelhante. Essa ligação torna possível aquela velha coisinha que todos nós tempos e as mães fazem questão de vangloriar, a intuição.
Esta intuição, que prevê os acontecimentos, ao meu ver, é a expressão de que no laço transferencial existe esta tomada da fala do outro, que por talvez ironia, gera tal discurso a partir de uma instância que dentro de uma inabilidade do simbólico, agrega tal discurso ao valor de imagem.
Falando de imagem, me recordo sobre a grande sacada da clinica em psicanálise, primariamente pensado por Freud, se aprimorou em sua palavra através da leitura de Lacan. Esta, que é talvez agrande mãe da clinica psicanalítica, se deriva do conceito primário do amor transferencial, a ponto de se entender que, é necessário uma pequeno engano para que o discurso analítico aconteça. O que se chama suposto, é aquele que, como o próprio amor Lacaniano, é aquele que não é, não que isso seja uma injustiça ou uma malandragem, pois se constrói, e isso pode ser notado em todas as relações da vida cotidiana, a partir de uma demanda, esse engano se constrói a partir da relação imaginaria do discurso, que tende sempre a buscar um outro, na clinica esse outro, digamos que ele não faça questão de existir.
Se falarmos em discurso, o discurso do analista segundo a lógica Lacaniana, coloca o analista em uma posição em que a ele é suposto um saber, o saber do analista diga-se de passagem, é justamente o que de fato ele não é, pois este saber apenas lhe é conferido pela demanda do sujeito analisante, uma demanda imaginária, ou pode-se dizer a histerização do discurso. Então existe e é de fundamental importância que a transferência se instale em um processo analítico, pois o discurso histérico se dirige um mestre, imaginário que deve ser soberano, mas que não governe. Este contorno que ultrapassa os limites da relação analista analisante e dá forma ao que chamamos de fenômeno da associação livre, e sem a transferência acontecendo creio isso seria de fato impossível retirar a cura através da palavra.
Acredito que outras abordagens entendam que o terapeuta deve se colocar com um colaborador do processo terapêutico, e concordo até certo ponto que isso venha a desenvolver uma cura, mas devo relembras que, ao contrário do que rezam as críticas, a imparcialidade, do analista é uma ferramente que, efetivamente tem como objetivo livrar a condição de saber, pois seria no mínimo um erro não aceitar o fato de que existe um desejo na relação analista, analisante, que não é de ninguém por direito, essa fala que se perderia, carrega toda uma rede de significantes que, só poderiam ser desvendados através do discurso, que curiosamente só se constroi quando o sujeito, supõe um saber imaginário. Este supor quebra, aquilo que chamamos de repetição, trazendo os movimentos não percebidos do discurso, a uma ordem passivel de significação, pois é da ordem do simbólico que surge a cura.

Um comentário:

  1. não tinha visto esse. confesso que ainda não entendi bem a importância da transferência....e gostaria muito de entender.
    me ajuda?

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